terça-feira, 10 de maio de 2016

Didática da Alfabetização


UMA PROPOSTA DIDÁTICA A PARTIR DO ESTUDO DE CADA NÍVEL DE APRENDIZAGEM É CAPAZ DE REVERTER INSUCESSOS.

Nessa metodologia, o aluno vivencia, ao chegar à escola ,... todas as letras, qualquer palavra e qualquer texto. Isto é, desejamos criar para ele um ambiente semelhante àquele que comumente crianças de classe alta e média têm no seu ambiente familiar, isto por que esse aluno vive a circunstância específica de uma família onde pode haver analfabetos ou alfabetizados com poucos anos de escolarização, onde materiais e atos de leitura e escrita são muitíssimos escassos.

...Ensinar letra por letra, para crianças que não as vivenciaram antes é inútil. Além do mais, sabe-se que as crianças não começam pela distinção de letras isoladas. Elas as distinguem primeiramente na qualidade de iniciais de nomes de pessoas ou de palavras que lhes são muito significativas.

Entre essas palavras figura normalmente o seu próprio nome. Não se trata de uma memorização direta da correspondência da letra a seu som, pela repetição dessa informação por parte de alguém que ensina. Essa aprendizagem é muito mais complexa e passa pelos meandros da sociabilidade.

Assim vamos rever cada característica dos níveis da aprendizagem:

Pré – silábico 1

Hipótese explicativa da escrita que escrever é desenhar e que ler é interpretar imagens ou figuras. Sendo possível ler em imagens, fotos e figuras. E as letras são objetos que não têm a haver necessariamente com a produção escrita. Assim, os métodos convencionais que começam com escritas ou mesmo com letras isoladas não lhe fazem nenhum sentido. Eles são incapazes de compreender o que está sendo proposto.

Pré – silábico 2

Possuem uma visão sincrética, associam letras a palavras inteiras, não há discriminação de unidades linguísticas e, há completa ausência de vinculação entre a pronúncia das partes de uma palavra ou de uma frase e sua escrita.

Ideias vinculadas ao nível pré-silábico 2:

“Está escrito o que eu desejei escrever”.

“Escrita sem imagem não dá pra ler, é pura letra;”

“Só se escrevem substantivos. Verbos e outras palavras não têm consistência para que se as escreva”;

“Letras ou sílabas não se repetem numa mesma palavra. Isto não fica bem”;

“Só se leem palavras com três letras ou mais”;

“Letra e número são a mesma coisa, ou são sinais parecidas”;

“A escrita das palavras não é estável. Numa frase ou num texto o código pode mudar”;

“Basta ter a inicial para caracterizar uma palavra”;

“A ordem das letras na palavra não é importante. Basta que estejam todas elas”.

Conflito de passagem do Pré-silábico 2 ao silábico:

Os alunos em conflito julgam que a palavra dissílaba que já foi escrita e que entra na frase deve se conservar como antes. Enquanto estiverem pré-silábico 2, a palavra não tem necessidade de possuir estabilidade, ela pode variar ao sabor das circunstâncias.

Isso diz respeito somente a palavras não memorizadas globalmente, como o próprio nome da criança, ou outras palavras que ele teve oportunidade e interesse de gravar como um conjunto de letras e não apoiada numa teoria sobre a sua junção, mesmo estando no nível pré-silábico 2. Essas palavras, neste nível, têm uma estabilidade exterior e independente da estruturação do sistema da escrita na cabeça da criança. Dizemos que esta estabilidade é exterior é exterior por que ela repousa na autoridade de alguém que assegura à criança que a palavra deve ser escrita com tais letras e em tal ordenação, sem que ela compreenda o porquê.

Na passagem do nível pré –silábico 2 para o nível silábico a escrita começa a se desvincular da imagem e os números podem se distinguir das letras, isto é, as concepções do nível pré –silábico 2 vão sendo questionadas à luz da ideia da vinculação pronúncia x escrita __ introduz para o sujeito que está caminhando para a leitura e para a escrita uma complicação difícil de ser resolvida. 
 
 
Fonte: Didáticas dos Níveis Pré – silábicos – vol.1- Esther Pillar Grossi (Grossi, Esther Pillar)-Editora: Paz e Terra, RJ-1990 – Pág. 54 à 64). 


Nível silábico

A hipótese de que a cada sílaba corresponde uma letra é uma forma que se apresenta muito plausível (aceitável) à criança para resolver esse impasse. É isso que define o nível silábico. Para nele se instalar perfeitamente, o sujeito precisa vencer muitas barreiras, como se depreende (inferir, compreende, chega à conclusão) das ideias que ele tinha no nível pré-silábico 2 e que foram questionadas no conflito de passagem. Uma das principais barreiras é a do número mínimo de letras para que elas possam constituir uma palavra. Pela hipótese silábica, devem existir palavras com duas e até com uma letra (as dissílabas e as monossílabas). Isto é conflitante, mas a força da vinculação __ pronúncia x escrita __ pode fazer vencer essas barreiras.


No nível silábico costuma também ocorrer que , quando lhe é proposto escrever uma frase, o aluno utiliza uma letra para cada palavra, em vez de uma letra para cada sílaba, como o faz já para palavras isoladas. Esse fato mostra como as categorias linguísticas ainda não estam claramente definidas, exatamente porque elas não têm estabilidade. Por outro lado, o aluno do nível silábico é um sujeito que resolveu temporariamente o problema da escrita, mas que vai se defrontar mais cedo ou mais tarde com o problema da leitura.

Conflito de passagem do nível silábico para o nível alfabético

Neste, momento, quando a criança entra em conflito, perdendo a confiança que lhe adivinha da certeza nos seus esquemas anteriores, muitas vezes ela regride para condutas do nível PS2, desolando um professor desavisado. Tantas vezes ouvimos afirmações do tipo: “Eu não sei o que aconteceu com Fulano. Ele desaprendeu tudo. Está como meses atrás”.

...No momento da superação da hipótese silábica, a necessidade do conhecimento do valor sonoro convencional de algumas letras torna-se quase imperiosa, sob pena de o processo de leitura e escrita não poder avançar adequadamente.

Fonte: Didáticas dos Nível Silábico – vol.1- Esther Pillar Grossi (Grossi, Esther Pillar)-Editora: Paz e Terra, RJ
 
  Nível Alfabético

...Neste momento, há necessidade de começar a distinguir basicamente algumas unidades linguísticas, tais como: letras, sílabas e textos.

É interessante porém, que o aluno ignora a palavra como unidade separada nas frases e nos textos. Ele coloca espaços entre partes da frase, independentemente das palavras que compõem. Lembramos que, ao falar, não separamos palavras, o que pode reforçar essa tendência momentânea dos alunos. O aspecto alfabético da sílaba prepondera sobre a separação das palavras numa frase. Esta será um preocupação posterior do sujeito que aprende.

...Entrar no nível alfabético não significa ainda estar alfabetizado. Um aluno alfabético não sabe escrever corretamente, nem do ponto de vista ortográfico nem do ponto de vista léxico (relativo a vocabulário). No nível alfabético, o aluno ouve a pronúncia de cada sílaba e procura colocar letras que lhe correspondam. Neste nível é absolutamente legítimo escrever “qopo” ou “xinelo” ou “cazinha”.

No nível alfabético, o aluno está centrado na escrita das sílabas. Sua grande descoberta é que a cada sílaba oral não corresponde só uma letra. Aliás, ele pensa, em sua ignorância inteligente, que a cada sílaba oral corresponde duas letras. E mais, uma consoante e uma vogal, sempre nesta ordem.

...um aluno alfabético ainda não está alfabetizado porque se perde nas sílabas e por isso, sobretudo na leitura e na escrita de um texto, ele perde o seu sentido. Para que ele se torne alfabetizado, precisa superar a leitura e a escrita compartimentada em sílabas para voltar a ver a palavra como um todo, como ele o fazia no nível pré-silábico 2, de forma muito diferente e mais primitiva.
Fonte: Didáticas dos Nível Silábico – vol.3- Esther Pillar Grossi (Grossi, Esther Pillar)-Editora: Paz e Terra, RJ.
 

Alfabetizado
O nível alfabetizado se caracteriza pela competência de ler e escrever um texto simples. Ler um texto com compreensão de seu conteúdo e escrever um texto que um leitor razoavelmente inteligente possa compreender o que foi escrito. Significa algo mais do que decodificação (decifrar, interpretar o significado de palavra ou sentença de uma dada língua) da constituição das sílabas para formar palavras. Significa a identificação da escrita como um meio de expressão e de comunicação, portanto, muito além da habilidade de decifração do código escrito.

Um alfabetizado, portanto, lê logograficamente (leitura das palavras como um todo) frases e textos e, por isso, é capaz de captar mensagens neles expressas.

Um alfabetizado não é ainda ortográfico, no sentido de que não escreve corretamente as palavras, mas ele faz trocas inteligentes de letras para representar o sons, como, por exemplo, SELSE para Seu Zé.

Ele já tem um repertório de no mínimo letras correspondentes a 18 sons da língua, incluindo sons que só aparecem no interior de palavras, como “r” brando. 

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